terça-feira, 21 de maio de 2019

O falso "tratamento respeitoso" para com a comunidade LGBTI+ ensinado na CCB - Tópicos de ensinamentos 2019

Será que Jesus considerava a homossexualidade algo tão ruim assim?
Jesus nunca falou em nenhum de seus discursos sobre relações homoafetivas.
No entanto, Jesus falou várias vezes sobre:
Não Julgar ao próximo
Querer parecer justo sem ser (os fariseus)
Classificar pessoas por tipo de pecado
Segregar pessoas por não estarem dentro de um padrão
Fazer sacrifício de tola
Amar ao próximo incondicionalmente
O perdão

Em 2019, o Conselho de Anciães da CCB publicou dois tópicos de ensinamentos que, a princípio, seriam uma grande evolução dentro da igreja referente à tolerância ao público gay, de dentro e de fora da igreja. No entanto, os ditos tópicos acabaram por gerar ainda mais exclusão e segregação ao abordar tanto o tema do "tratamento respeitoso" quanto "casamento de pessoas do mesmo sexo". Vamos analisá-los:

2 - TRATAMENTO E RESPEITO ÀS PESSOAS

"Conf. art. 1 do Estatuto, a Congregação Cristã no Brasil, fundamentada na doutrina apostólica tem por finalidade pregar o Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo e o Amor de Deus, tendo por cabeça só a Jesus Cristo e por guia o Espírito Santo, sem distinção de sexo, nacionalidade, raça, cor ou credo religioso. A Congregação Cristã no Brasil orienta a seus fiéis a não impor suas convicções e modo de ser às pessoas, não desprezar nem ofendê-las, apenas anunciar a misericórdia e o perdão dos pecados, por Jesus Cristo, que nos amou."

Notem bem a sutileza do ministério ao mencionar, categoria por categoria, a quem não deve ser feita distinção:

Sexo: homem e mulher;
Nacionalidade: brasileiro, venezuelano, sírio, americano etc;
Raça: europeu, índio, asiático, árabe, negro etc;
Cor: branco, preto, pardo, amarelo etc;
Credo religioso: evangélico, católico, umbandista etc;

Se é que houve a intenção de tratar a comunidade LGBT com respeito nesses tópicos, o efeito gerado foi o contrário ao EXCLUÍ-LOS dessa lista, sobretudo nesses dias, quando nunca se tenha falado tanto sobre crimes de ódio e homofobia. A bem da verdade, todos sabemos que a CCB não ensina tanto a tratar a todos com respeito. Muitas pregações são direcionadas CONTRA membros de outras denominações cristãs, chamando-os de sectários ou primos. Candomblecistas, epíritas e umbandistas são retratados como filhos das trevas, católicos como idólatras. Além do mais, mulheres são tratadas como seres humanos que devem ser submissos às vontades dos homens. Existe, de fato, uma cultura do desprezo às pessoas que não são "fiéis à doutrina ensinada na CCB". Portanto, a CCB continua a oficialmente suportar o preconceito contra homossexuais, ao omitir de seus tópicos que os tais também devem ser respeitados, mesmo que saibamos que isso seria apenas na teoria, pois na prática gays continuariam a ser atacados de cima dos púlpitos e segregados da irmandade, assim como acontece com pessoas de outras denominações.

10- CASAMENTO DE PESSOAS DO MESMO SEXO
"O ministério esclarece à irmandade que devemos respeitar os direitos das pessoas referentes à união conjugal entre pessoas do mesmo sexo pois, segundo a Constituição do Brasil, são livres para optarem sobre o modo de regerem suas vidas, em todos os aspectos, quer familiar, social, sentimental e religioso. Devemos permanecer fiéis à Palavra de Deus que condena a idolatria e depravação das pessoas, conforme escrito em Romanos 1:18 ao 32. São condenados também aqueles que conhecem a justiça de Deus, mas consentem com o pecado, participando de tais atos, inclusive em festas relativas a essas uniões."

Esse segundo tópico consegue ser ainda mais absurdo que o primeiro. A princípio, parece que o Ministério da CCB está exortando a igreja a respeitar e conviver pacificamente com a comunidade LGBT. Mas logo em seguida chamam os gays de DEPRAVADOS, CONDENADOS, PECADORES e exortam a irmandade a NÃO APOIAREM ou se MISTURAREM com pessoas que estejam nesse "pecado", caso contrário elas TAMBÉM SERÃO CONDENADAS. Novamente aqui não houve nenhuma exortação de tratamento respeitoso para com os homossexuais, mas sim uma EXPLÍCITA EXCLUSÃO SOCIAL, uma exortação à irmandade a não apoiarem, consentirem ou se relacionarem com a comunidade LGBT.


A Congregação Cristã no Brasil é muito sutil na maneira como manipula sua membresia através de mensagens subliminares. Mais uma vez ela deu uma aula de como excluir, desprezar e segregar aqueles que não se encaixam no seu modus operandi de ser.




quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Pedofilia: um crime silencioso no seio das instituições mais tradicionais da sociedade



Um estudo estatístico nos Estados Unidos mostrou que 75% ataques sexuais juvenis ocorrem por alguém próximo da vítima, sendo grande parte dos casos o pai ou padrasto. 80% das vítimas são mulheres.

Em 2017 um escândalo veio à tona na Igreja Católica da Austrália, quando um relatório de 4.444 pessoas denunciou abusos sexuais sofridos na infância dentro daquela instituição naquele país. 78% das vítimas eram homens e 22% mulheres. Muitos dos abusadores pertenciam ao alto escalão da igreja.

Olhando para os números acima, eu me pergunto onde está verdadeiramente o problema. A família e a igreja são as instituições mais tradicionais e, teoricamente, as mais confiáveis do mundo. Sabendo disso, pessoas má intencionadas usam da confiança de inocentes para cometer crimes horrendos, causando traumas físicos e emocionais muitas das vezes irreparáveis na vida milhares de crianças.

Uma relação absurda que lemos geralmente é o da pedofilia e da homossexualidade. Muitas pessoas acreditam que ambos estão diretamente correlacionados, mas basta olhar para as estatísticas de abusos domésticos para notar que a pedofilia no lar é predominantemente heteronormativo. No caso dos ataques na Igreja Católica, homossexuais reprimidos e acobertados por uma instituição (a Igreja Católica) que impõe o celibato se esconderam atrás da batina e atacam garotos coroinhas. Em todos os casos, há um crime gravíssimo sendo cometido. A prática do ato sexual não consensual é um ato criminoso, e crianças não tem poder nem discernimento sobre seus corpos.

Por outro lado, grande parte da nossa sociedade acha que o real problema moral está em “exibir o beijo gay” entre dois adultos em horário nobre da TV aberta, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou dois homens andando de mãos dadas ou trocando carícias em público. Essas pessoas que defendem “os bons costumes” acreditam que as crianças irão ser influenciadas negativamente por presenciar o amor entre dois iguais, e não cuidam que talvez elas estejam sendo atacadas por alguém de sua extrema confiança, como um tio tarado ou um pastor criminoso.



Os homossexuais foram reprimidos, atacados, humilhados, presos e mortos durante centenas de anos. Inúmeros homens e mulheres importantes da história eram gays, mas não podiam assumir suas verdadeiras preferências por causa da opressão social. Estamos vivendo um tempo de mudanças e de liberdade. Cada ser humano adulto tem o direito de amar quem bem entender, seja alguém do sexo oposto ou do mesmo sexo, desde que seja outro adulto e que seja recíproco e consensual. Assim como o divórcio foi tabu por séculos no Brasil, mas foi plenamente legalizado recentemente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo também veio para ficar.

Portanto, antes de apontar o dedo para alguém que é assumidamente homossexual, olhe ao seu redor e observe os reais problemas que podem estar escondidos.

Fontes: http://victimsofcrime.org/media/reporting-on-child-sexual-abuse/child-sexual-abuse-statistics

https://g1.globo.com/mundo/noticia/denunciados-4500-casos-de-pedofilia-na-igreja-catolica-da-australia.ghtml

sábado, 1 de setembro de 2018

A manipulação bíblica contra o gay


A Congregação Cristã no Brasil é categórica ao afirmar que a homossexualidade é pecado. Em meus 11 anos dentro dessa denominação, ouvi diversas pregações sobre como Deus odiava a homossexualidade, e como os que praticam tal ato seriam condenados ao fogo que arde sem nunca se apagar. Dentre as passagens bíblicas favoritas estavam A destruição de Sodoma e Gomorra, A idolatria e depravação dos gentios em Aos Romanos 1, Levíticos 18:22 e passagens bíblicas que afirmam que os efeminados não irão herdar o reino dos céus (como se todo gay fosse efeminado, ou que todo efeminado fosse gay). 

Interessante que o mesmo capítulo em Levíticos 18 também diz que os homens não devem ter relações sexuais com mulheres "no período impuro da menstruação", mas eu nunca ouvi nenhum ancião pregar sobre isso. Já no capítulo seguinte, diz que os homens não devem cortar os cabelos do lado da cabeça, nem aparar as pontas das barbas. Também nunca ouvi nenhuma pregação a respeito. Pelo contrário, na CCB é proibido o uso de barba, contrariando diretamente uma explicita ordenança.

Uma outra passagem bíblia interessantíssima e que eu nunca ouvi a respeito na CCB é a possessão de meninas escravas sexuais,  onde Deus, através de seu porta-vós Moisés, exorta ao povo cometer ao menos três crimes em um só (estupro, pedofilia e escravidão).  Vejamos a Palavra de Deus na íntegra:

E falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
Vinga os filhos de Israel dos midianitas; depois recolhido serás ao teu povo.
Falou, pois, Moisés ao povo, dizendo: Armem-se alguns de vós para a guerra, e saiam contra os midianitas, para fazerem a vingança do Senhor contra eles.
Mil de cada tribo, entre todas as tribos de Israel, enviareis à guerra.
Assim foram dados, dos milhares de Israel, mil de cada tribo; doze mil armados para a peleja.
E Moisés os mandou à guerra, mil de cada tribo, e com eles Finéias, filho de Eleazar, o sacerdote, com os vasos do santuário, e com as trombetas do alarido na sua mão.
E pelejaram contra os midianitas, como o Senhor ordenara a Moisés; e mataram a todos os homens.
Mataram também, além dos que já haviam sido mortos, os reis dos midianitas: a Evi, e a Requém, e a Zur, e a Hur, e a Reba, cinco reis dos midianitas; também a Balaão, filho de Beor, mataram à espada.
Porém, os filhos de Israel levaram presas as mulheres dos midianitas e as suas crianças; também levaram todos os seus animais e todo o seu gado, e todos os seus bens.
E queimaram a fogo todas as suas cidades com todas as suas habitações e todos os seus acampamentos.
E tomaram todo o despojo e toda a presa de homens e de animais.
E trouxeram a Moisés e a Eleazar, o sacerdote, e à congregação dos filhos de Israel, os cativos, e a presa, e o despojo, para o arraial, nas campinas de Moabe, que estão junto ao Jordão, na altura de Jericó.
Porém Moisés e Eleazar, o sacerdote, e todos os príncipes da congregação, saíram a recebê-los fora do arraial.
E indignou-se Moisés grandemente contra os oficiais do exército, capitães dos milhares e capitães das centenas, que vinham do serviço da guerra.
E Moisés disse-lhes: Deixastes viver todas as mulheres?
Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o Senhor no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do Senhor.
Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele.
Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós.
Números 31:1-18

Que Deus amoroso! Todas as propriedades de um povo foram destruídas e seus homens mortos. Não contente, Moisés ainda mandou matar todas as mulheres que não fossem virgens, as crianças do sexo masculino, e as meninas virgens serviriam de escravas sexuais

É evidente que a moral da sociedade mudou nos últimos milênios. Genocídio é crime, destruição de propriedade alheia, também. O que dizer então de escravas sexuais? Meninas??? Aparentemente a Bíblia não é o melhor dos livros a ser usado como exemplo ético para os dias atuais.

Em pleno século XXI, nas sociedades civilizadas, o entendimento a respeito da orientação sexual evoluiu. Não é mais crime dois homens ou duas mulheres se casarem. Mas é crime um homem se casar com ou possuir uma criança ou adolescente, o que pela Bíblia era visto como algo normal. Mesmo no Novo Testamento encontramos trechos absurdos como "vós escravos sedes sujeitos aos vossos senhores, não somente aos bons, mas também aos maus" ou "as mulheres estejam caladas nas igrejas, pois é indecente que falem. Se salvarão dando à luz a filhos". 

É incrível como religiosos são cegos em pontos tão críticos e intolerantes no convívio com as diferenças. Escolhem partes que suportam seus preconceitos e descartam outras desconcertantes, como Números 31. Fariseus dos tempos modernos, manipuladores das massas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Igreja dos Irmãos de Elgin, Illinois, torna-se igreja inclusiva e celebra casamento de pessoas do mesmo sexo

Church of the Brethren de Elgin, Illinois, tem ligações históricas com a Congregação Cristã no Brasil

Entrada da Igreja dos Irmãos de Elgin, Illinois: Todos são benvindos
Muitas pessoas pensam que igrejas inclusivas são aquelas lideradas exclusivamente por homossexuais, e frequentada apenas por esses. Muito longe disso. Recentemente, várias denominações tradicionais vem revendo suas políticas anti-gays, interpretando a bíblia à luz dos tempos modernos e da sociedade contemporânea.

Uma dessas igrejas é a Church of the Brethren de Elgin,Illinois, USA. Esta seria apenas mais uma igreja não fosse seu histórico importantíssimo que a liga à Congregação Cristã no Brasil.

De acordo com Louis Francescon, líder do movimento ítalo-pentecostal e fundador de várias denominações em diversos países, entre elas a Congregação Cristã no Brasil, Giuseppe Beretta foi batizado por um irmão da Igreja dos Irmãos de Elgin, Illinois. Posteriormente, Beretta batizou Louis Francescon. A Igreja dos Irmãos pratica o batismo diferentemente da CCB: a pessoa se ajoelha no tanque batismal, e é imergida três vezes para frente, em do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

É muito interessante saber que mais de 100 anos depois de haver batizado um personagem importante da história da CCB, a Igreja dos Irmãos tenha tomado tão importante passo na inclusão de gays e lésbicas em sua comunidade. Não apenas isso, mas também desde 2005 a Igreja dos Irmãos de Elgin vem performando casamentos de pessoas do mesmo sexo. Ela continua, no entanto, sendo uma igreja tradicional, celebrando a família e sua assistência é de maioria heterossexual. No entanto, esta foi uma decisão particular da igreja de Elgin, Ill., mesmo assim, ela não foi desligada da comunhão das outras Igrejas dos Irmãos, e continua aparecendo no relatório como filiada.

Abaixo segue a tradução da declaração que a Igreja dos Irmãos de Elgin fez sobre esta importante e moderna decisão:

Aprovado em 25 de setembro de 2005, em Reunião Congregacional

Nós somos uma congregação de crentes chamados para viver em relacionamento de amor. Nós afirmamos nossos laços uns para com os outros, à Igreja dos Irmãos, à  Igreja expandida de Cristo, e à toda a humanidade.

Nós buscamos andar nos passos de Jesus Cristo. Nós cremos que cada ser humano é um amado filho de Deus. Nós guardamos e celebramos a presença e dons de cada pessoa independentemente de sua idade, sexo, status civil, orientação sexual, raça ou etnia. Como nós acolhemos pessoas com orientação homossexual, nós sabemos que isso será de difícil aceitação para alguns em nossa congregação como também na igreja expandida.

Indo além, nós acreditamos que pessoas de orientação homossexual foram abençoadas com dons para ministério e liderança. Reconhecendo a liderança do Espírito de Deus em Atos 15, onde a universalidade do Evangelho é afirmada, nós acolhemos aquilo que Deus abençoou.

Juntos nós buscamos quebrar as barreiras que dividem as pessoas e compartilhamos nosso amor à Deus e ao próximo com o mundo. Nós acreditamos que a questão da orientação sexual divide profundamente os cristãos. Nós desejamos fechar esta fenda. Nós convidamos cristãos em todos os lugares à um estudo mais aprofundado e discernimento.

Fonte: http://www.hacob.org/about-us/highland-avenue.php 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Orgulhoso de te chamar "meu filho transexual"

Católico, conservador e ex militar, pai dá uma linda palestra sobre a jornada percorrida com seu filho transexual Dana.

Você que é ancião, cooperador, cooperador de jovens, deve assistir este vídeo antes de proferir qualquer palavra contra transexuais de cima dos púlpitos da Congregação Cristã no Brasil, ou poderá estar incorrendo no crime de injuria e incitação ao ódio.

     Legenda em Português



 Vídeo de Dana falando para um canal no Youtube


O perigo de esconder quem você realmente é - TED Talk

Legendado em Português

terça-feira, 24 de julho de 2018

Ideologia de Gênero aos olhos de uma igreja que não entende de direitos da mulher



Nós cremos na inteira Bíblia como contendo a infalível Palavra de Deus.

É assim que começa o posicionamento do pregador da Congregação Cristã no Brasil antes de chamar o tópico sobre a Ideologia de Gênero. Trata-se de um áudio de quase 1 hora de pregação onde, entre diversas ameaças subliminares de destruição por diversos pecados praticados pelo povo, ele introduz a questão da (pluri)sexualidade humana. Abaixo estão as palavras do ancião. Em seguida irei destrinchar o que é dito, e veremos se há sentido no que ele diz. Peço desculpas pelos erros de português, mas quis seguir à risca as palavras de sua própria boca.

Parágrafo I

“Até no ventre das mulheres quem manda é Deus. E o mundo que estamos vivendo está colocando ordem nos ventres das mulheres, dizendo: Não é você quem escolhe, não é eu, nós vamos deixar quem nasce escolher o que quer ser, escolher como quer ser. E Deus diz: Antes mesmo de ser gerado, eu já sei o que deve ser....Irmãos, ouça isso aqui. Bendito é o nome do Senhor. Eu nunca preguei isso aqui que Deus dá de pregar, mas prego com franqueza porque tenho certeza que é o Senhor que dá: não nasce mulher com aspecto de homem, não nasce homem com aspecto de mulher. Deus não faz nada errado....Mas o que não receberam o espírito de Deus não vão consentir com a verdade. Bendito é o nome Santo do Senhor...”

Parágrafo II

“As ideologia de gênero faz uma Bíblia agora e pegando todas as palavras...e torcendo para fazer uma Bíblia conforme a cada um. Faz uma Bíblia conforme o teu querer (repete 3 vezes). E quem criou? Irmãos, o Senhor está aqui conversando com nós...

Deus vai pregar aqui nessa noite: Cuidado com o que você lê. Tem gente que diz: O povo não quer que eles lê outra coisa, para não ser enganado. Não ser enganado? Bendito é o nome Santo do Senhor. Aqui contém tudo o que nós precisamos (a Bíblia), mas o homem e a mulher espiritual, irmão, quando ele lê só o prefácio ele diz: não, isso aqui não me serve...Irmão, estão torcendo as escrituras divinas para os seus propósitos carnais serem cumpridos...Será que todos estão aceitando essa Palavra? Será que todos vão receber isto? Bendito é o nome Santo do Senhor. Então por que réplicas? E quer saber de quem eu tenho misericórdia? De quem vou me compadecer? Vou ter misericórdia dos que buscam o espírito da graça, porque o mundo está carregado de outros espíritos...Irmãos, o Senhor não vai se compadecer de quem busca o espírito das trevas. Quem está nas trevas anda nas trevas porque suas obras tem que ser encobertas. Quem está na luz anda na luz porque sua consciência não lhe acusa e as suas obras são obras da luz. O Senhor pergunta hoje aqui: Tem obras de Luz? Ou será que tem alguém aqui com obras das trevas? E entrou aqui nesta noite, e o Senhor está mandando esta Palavra dizendo: As trevas te encobrem, os homens não te enxergam. As luzes mundanas não entram nas trevas, mas a luz da Palavra vai até o profundo das trevas.”

Parágrafo I

No parágrafo I, o ancião começa com uma afirmação machista, porém que vem caindo em descrédito nas últimas décadas, a afirmação de que Deus manda no ventre das mulheres. Este tipo de argumento é o mesmo sustentado pela Igreja Católica para tentar impedir o controle de natalidade, onde mulheres deveriam ter filhos à revelia, como minha bisavó que teve mais de 20 filhos. Mas voltemos ao tópico da questão de gênero. O mais interessante é que a religião é contra a ciência em assuntos que não lhes convém, como a origem do Universo, a Teoria da Evolução etc., mas é a primeira a chamar a ciência para temas que pretendem ter seu respaldo,  mesmo que errem vergonhosamente quando a ciência prova que mesmo em tais tentativas, a religião está errada.

“Não é você quem escolhe, não é eu, nós vamos deixar quem nasce escolher o que quer ser, escolher como quer ser. E Deus diz: Antes mesmo de ser gerado, eu já sei o que deve ser.”
“não nasce mulher com aspecto de homem, não nasce homem com aspecto de mulher. Deus não faz nada errado”

A questão vai muito além de escolher ou deixar alguém escolher algo, bem como se Deus faz algo errado ou não. Quando pregadores clamam que a natureza de Deus é perfeita, eles se esquecem dos milhões de bebês que nascem com defeitos físicos, doentes, acéfalos ou deformados. Oras, a natureza de Deus não é perfeita? Então como explicar as diversas condições humanas que não obedecem a esta perfeição? Então você vai dizer que foi o Diabo que entrou no útero da mulher e causou as deformidades, doenças e síndromes? Se sua resposta é sim, já cai por terra a afirmativa de que Deus manda no útero das mulheres. Inclusive várias mulheres cristãs dão à luz a filhos com deficiências diversas. Se seu raciocínio é que Deus permite que estas crianças venham ao mundo com essas variações genéricas, defeitos físicos, síndromes e enfermidades, tem que concordar que então a natureza de Deus não é perfeita como o pregador afirmou acima, afinal estudos afirmam que de 3% a 4% das crianças que nascem, vem ao mundo com algum tipo de deficiência ou incapacidade, não obedecendo, portanto, a suposta perfeição defendida pelo pregador.

No que tange à “INTERSEXUALIDADE”, um termo científico ao qual aparentemente este ancião desconhece, de 0.5% a 1.7% dos bebês nascem com algum tipo de alteração genética no que diz respeito à sua sexualidade, seja nos cromossomos sexuais, genitália externa, órgãos reprodutores internos ou hormônios ligados ao sexo. Isto é constatação científica, da mesma maneira que bebês nascem com condições raras ligadas ao aprendizado e desenvolvimento físico, também há pessoas que nascem intersexuais, ou seja, com características dúbias do sexo masculino e feminino. Estes fatos são naturais, pois estão na natureza, e contra fatos não há argumentos. Quem nunca ouviu falar do hermafroditismo? Portanto, nascem sim homens com aspecto de mulheres e mulheres com aspectos de homens. Sem discussão.

Além da condições de caráter intersexual, existem outros tipos de manifestação da sexualidade que não são consideradas doenças nem anormalidades: a homossexualidade, a transexualidade, a bissexualidade e o respeito a todas as suas variantes. Há vários anos a OMS deixou de considerar a homossexualidade uma doença e este ano (2018) a transexualidade também deixou a lista. A homossexualidade apenas é considerada doença em países machistas e ditatoriais, como o Irã. Em todo o mundo moderno e civilizado é tendência o reconhecimento da união civil e casamento de pessoas do mesmo sexo. Mas você pode dizer: “Ah mas pessoas do mesmo sexo não se reproduzem”. Eu pergunto: o único motivo pelo qual duas pessoas se casam é para se reproduzir? Existe um número crescente de casais heterossexuais que não querem ter filhos. Então estes deveriam ser proibidos de se casarem? O que dizer então do casamento de pessoas estéreis? As pessoas se casam ou se unem para suprir suas necessidades afetivas e sexuais, e cada um tem o direito sim de escolher com quem quer compartilhar sua vida. Casamento por obrigação, arranjado e por fortalecimento de riquezas familiares é coisa do passado, bem como o seu entendimento caduco de que apenas homem e mulher podem se casar porque eles podem se reproduzir e para cumprir protocolo de um Deus que, segundo o seu entendimento, gera apenas pessoas perfeitas, apesar das constatações científicas de não ser bem assim.

Parágrafo II

No segundo momento da pregação, o foco do ancião é contra o que ele chama de manipulação bíblica de pessoas que apoiam a ideologia de gênero, com versões do livro que provavelmente suavizam ou aprovam (supostamente, ele não deixou claro na pregação) a homo, inter, bi ou transexualidade.

A CCB usa uma versão da Bíblia em língua portuguesa chamada João Ferreira de Almeida. Almeida foi um sacerdoto português que viveu no século XVII, quem primeiro traduziu a bíblia para o nosso idioma. Sua primeira edição do Novo Testamento ocorreu em 1681. Ferreira de Almeida faleceu em outubro de 1691, sem concluir a tradução do Antigo Testamento, tendo chegado até livro de Ezequiel 48. A tradução do Antigo Testamento foi continuada por Jacobus op. Den Akker, pastor Holandês, colega de Almeida. O texto do Antigo Testamento completo só viria a ser impresso em 1751, e a bíblia completa em português em um único volume só foi publicada em 1819. De lá para cá, a Bíblia em português já sofreu inúmeras revisões e alterações devido a problemáticas na tradução. O mesmo ocorre em todas as outras línguas. Vale lembrar que o Antigo Testamento foi escrito sobretudo em hebraico, e o Novo Testamento, em grego ARCAICOS. Isso significa que o hebraico e o grego falado hoje são muito diferentes dos idiomas da época em que os livros foram escritos. Estima-se que os primeiros livros do VT começaram a serem escritos em 1500 A.C. e os últimos livros do NT foram escritos em 90 D.C., ou seja, a Bíblia foi escrita dentro de um período de 1600 anos, por mais de 40 autores diferentes. É exatamente por problemas de tradução, descobertas arqueológicas, reinterpretação de palavras cujos significados eram mal entendidos ou até mesmo desconhecidos que a Bíblia sofre correções, revisões e alterações até hoje. E continuará a haver sempre. De fatos, nos tempos bíblicos não havia tradução para palavras como homossexualidade, muito menos transexualidade ou intersexualidade. Numa tentativa de condenar a pratica sexual dentro do mesmo gênero, muitas dessas palavras em hebraico ou aramaico foram erroneamente traduzias em termos como “homens afeminados”, “homossexuais passivos ou ativos”, “sodomitas” entre outras. As traduções dos textos bíblicos sofreram ao longo da história inúmeras influências. A própria Igreja Católica possui sua versão Bíblica que mais se ajusta ao seu pensamento Católico Romano de ser. As igrejas protestantes fizeram o mesmo. Uma pequena vírgula pode mudar todo o entendimento de uma doutrina em determinada tradução, mesmo não tendo certeza se aquela vírgula devesse estar ali, já que não havia pontuação nos textos originais.

Deus não escreveu a Bíblia ele próprio em cada idioma do planeta. Não foi Deus quem traduziu a bíblia para o português, nem para o inglês, espanhol, holandês, chinês, japonês mas sim diversos homens que erram e continuam errando na tradução, e por este motivo continuam a revisar os textos bíblicos. Quem tem o mínimo de conhecimento de história da Bíblia conhece estes fatos...mas por ignorância os anciães da CCB continuarão pregando contra igualdade de gênero, revisão dos textos bíblicos e chamando todos aqueles que não se enquadram no seu padrão, ou que pregam a compaixão, o amor e a misericórdia para todas as pessoas, de filhos das trevas.

Fontes: 
https://www.apa.org/topics/lgbt/intersex.pdf
http://www.sbb.org.br/a-biblia-sagrada/joao-ferreira-de-almeida/
https://en.wikipedia.org/wiki/Intersex 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Somos gays, somos casados e somos pastores evangélicos

Todo tipo de amor combina com Jesus... Por isso, abrimos nossa própria igreja para abençoar as uniões homossexuais


Sou cristão e gay. Jesus e a Bíblia são meus modelos de comportamento. Acredito no casamento e meu sonho de construir uma família se tornou realidade. Me casei em 2009 com o amor da minha vida. Ele também é um homem de Deus e é pastor como eu. Juntos, fundamos a Igreja Cristã Contemporânea, uma igreja que aceita relacionamentos homossexuais.
Estou certo de que a Bíblia não condena os gays. Sou o primeiro pastor brasileiro a ter uma cerimônia religiosa de casamento com outro homem. Dos 30 pares de padrinhos que convidamos, 29 eram homossexuais. Todas as 11 crianças que entraram na nossa frente foram criadas por dois pais ou duas mães. Quando entramos, tocou uma música evangélica que diz: "Nenhuma condenação há para aquele que está em Jesus".
Nossa lua de mel foi na Costa do Sauípe. Quando cheguei naquele paraíso, passou um filme na minha cabeça. Como foi longo e difícil o caminho que precisei percorrer até me tornar pastor e casar com o Fábio...
Virei evangélico aos 14 anos
Ainda estava na puberdade quando me encontrei com Jesus. Aos 14 anos passei a ir à igreja seis dias por semana. Virava madrugadas estudando a Bíblia, adorava pregar sermões, e aos 17 anos tive certeza da minha vocação para ser pastor.
Aos 19 encontrei uma garota com quem namorei por quatro anos. Cheguei a ficar noivo. Meu futuro parecia traçado, não fosse por um segredo: me sentia atraído por outros rapazes. Eu sabia que isso inviabilizaria meu sonho de ser pastor e que eu jamais poderia casar com um homem. A igreja não admitia isso.
Resolvi me assumir numa boate gay e rompi meu noivado
Era 1999, eu tinha 23 anos e fui visitar um amigo nos Estados Unidos. Certo dia, ele me levou até uma boate gay. Fiquei assustado quando vi tantos homens se beijando! Comecei a fazer as minhas orações: "Deus, por que o Senhor me trouxe neste lugar?". Depois de muito orar, uma voz falou no meu coração: "Sua homossexualidade é pra sempre, você nasceu assim".
Cheguei ao Brasil e rompi meu noivado. A notícia sobre minha orientação sexual se espalhou rápido e não tive coragem de voltar ao templo. 
A maioria das igrejas evangélicas só aceita gays que queiram mudar a própria orientação. Mas eu não queria mudar a minha. Nem acredito nessa possibilidade!. Estava decidido a viver a minha homossexualidade. Foi nessa época que, pela primeira vez, me envolvi sexualmente com rapazes. Os anos seguintes foram difíceis. Eu morria de saudade da igreja e tinha vontade de voltar a pregar. Ser pastor estava no meu sangue. 
Comecei a pesquisar igrejas gays
Procurei informações sobre igrejas gays norte-americanas e criei um site propondo uma outra maneira de ler a Bíblia. Por exemplo: quase nenhuma igreja aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, alegando que a Bíblia fala que os efeminados não vão ao céu. mas o termo "efeminado" está mal traduzido - o que o original diz é "mole".
Por essas e outras que os relacionamentos entre homossexuais continuam não sendo admitidos nas igrejas. Criei uma alternativa a elas: em meados de 2002 abri um grupo evangélico para acolher as pessoas que procuram um espaço pra manifestar sua religiosidade cristã ao mesmo tempo em que vivem sua homossexualidade com tranquilidade.
Conheci o Fábio no grupo
Por volta de 2005 o Fábio começou a frequentar o grupo. Passamos a nos paquerar e a sonhar com uma igreja pra acolher homossexuais. Afinal, nosso jeito de expressar afeto tem tudo a ver com a nossa sexualidade.
Deu certo. Em setembro de 2006 assumimos o nosso relacionamento e fundamos a Igreja Cristã Contemporânea. Em dez anos, já juntamos mais de 3 mil pessoas em dez templos - são seis no Rio, dois em São Paulo e dois em Minas Gerais.
Na nossa congregação, defendemos o início da vida sexual durante o namoro, mesmo. Ao contrário das outras igrejas, pregamos que namorados podem ter vida sexual, desde que estejam comprometidos.
Somos legalmente casados e temos três lindos filhos
Do namoro até o noivado foi um ano. Coroamos nossa história de amor no altar, em 2009. Naquela época, os casamentos entre homossexuais não eram reconhecidos no Brasil. No entanto, fomos até um cartório e fizemos uma escritura declaratória de união homoafetiva. Oficialmente, ela não tem o mesmo valor que um contrato de casamento.
Em 2011, o Brasil passou a reconhecer a união estável homoafetiva, então fizemos uma. Não podíamos usar o mesmo sobrenome nem mudar o estado civil, mas já era algo. Em 2013, o país evolui mais e pudemos finalmente nos casar legalmente. O Fabio passou oficialmente para a família Canuto!
Nessa época, já tínhamos adotado dois filhos, o Davison, de 14 anos e o Felipe, de 12 anos. Hoje eles têm nosso sobrenome e uma certidão de nascimento com dois pais! Há seis meses adotamos a Hadassa Gladstone Canuto, que hoje tem 10 meses e dois pais. Ficamos quatro longos anos no processo de adoção. Mas sou feliz em dizer que não tivemos obstáculos específicos por sermos gays. Só enfrentamos as burocracias comuns para adotar uma criança. Por isso, montamos um grupo de apoio à adoção dentro da igreja, onde ajudamos casais a entender o processo inteiro e reforçamos a responsabilidade de acolher uma vida!
Amem incondicionalmente, como Jesus fez
Muitas mães heterossexuais frequentam a igreja por causa dos filhos. Isso é amor. Os nossos nos ensinaram muita coisa. Sou um pastor melhor por causa deles! A igreja Cristã precisa ser mais humana, compreender a diversidade. Deus não queria uma torre onde todas as pessoas falassem a mesma língua, Ele sabia que haveria a pluralidade e ela existe, está em todo lugar. Minha mensagem segue a mesma: amar, como Jesus fez. Ele não se preocupava em caracterizar uma pessoa pelo pecado, cor, classe ou religião. A gente só precisa amar!
Marcos Gladstone, 40 anos, advogado e pastor evangélico, Rio de Janeiro, RJ
 "Pensei que fosse o demônio"
"Aos 18 anos eu já era pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e tinha uma namorada. A homossexualidade me perturbava, eu achava que possuía o demônio no corpo. Certo dia, aos 24 anos, fui procurado por um obreiro que confessou que se sentia atraído por um homem. Como logo eu iria aconselhá-lo? Decidi terminar meu namoro e sair da igreja sem contar nada. Sentindo-me incompleto, comecei a frequentar baladas e a transar com rapazes. As coisas mudaram quando fui ao grupo do Marcos. Ele foi o primeiro homem que eu amei. Hoje vivo em paz com Deus e com minhas escolhas, não preciso de mais nada. Tudo que pedi a Deus me foi concedido. Se Jesus estivesse aqui, em terra, ele estaria no meio da minha família. Ele é amor e sempre andou entre os excluídos. Basta amar!"
Fábio Inácio, 36 anos, pastor evangélico, marido do Marcos

Luta por direitos dos gays será longa no Brasil

Campos de batalha dos gays brasileiros passam por questões jurídicas, morais, religiosas e científicas. E a luta tem tudo para ser longa


Com apenas 2,8 quilômetros de extensão, a Avenida Paulista é uma das provas mais veementes da consolidação dos direitos dos gays brasileiros. Ali, pares masculinos caminham tranquilamente de mãos dadas, misturados aos 1,2 milhão de pedestres que passam por lá todos os dias – e, gostem ou não, estão cada vez mais acostumados a essa nova paisagem. Ali, não raramente, casais de mulheres se beijam à luz do dia. E ali acontece a maior Parada do Orgulho GLBT do mundo, que reuniu 4 milhões de pessoas neste 26 de junho. A avenida, no entanto, também tem servido de cenário para manifestações homofóbicas. De novembro para cá, foram registrados os seis casos mais graves de violência contra homossexuais ocorridos no Brasil. Esses contrastes transformaram a mais paulista das avenidas num microcosmo do que se passa atualmente no restante do país.
Os avanços jurídicos, culturais e até religiosos ocorridos nas últimas décadas não foram suficientes para garantir aos homossexuais uma cidadania plena. Em maio de 1993, VEJA publicou uma reportagem de capa com o título “O que é ser gay no Brasil”. Os dados de uma pesquisa realizada na época pelo Ibope e divulgados naquela edição informavam que 56% dos entrevistados se afastariam de um colega caso descobrissem que ele era homossexual, 45% dos pacientes mudariam de médico e 47% dos eleitores mudariam seu voto. Do total, 44% debitavam aos gays o aparecimento da aids.
Tony Reis, presidente Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), e David Harrad, seu companheiro há mais de duas décadas, foram dois dos entrevistados por VEJA em maio de 1993. Fazia exatamente três anos que a Organização Mundial de Saúde excluíra a homossexualidade da sua lista de doenças mentais.
“Naquela época havia eu, o David e mais meia dúzia de homossexuais assumidos no Brasil”, lembra Tony. No censo de 2010 – o primeiro em que um levantamento do tipo foi realizado – 60.000 brasileiros declararam viver com cônjuge do mesmo sexo.
O limite da tolerância – Passados 20 anos da edição de VEJA, os homossexuais estão em todas as empresas e profissões, representantes do movimento gay são cada vez mais numerosos na Câmara dos Deputados e está mais do que provado que a aids não surgiu por culpa do homossexualismo. Contudo, os avanços não impedem que ocorram episódios inquietantes. Há uma semana, em São João da Boa Vista, a 225 quilômetros de São Paulo, um homem de 42 anos e seu filho, de 18, foram atacados depois de confundidos com um casal gay. O pai teve metade da orelha arrancada a mordidas. Um relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia, primeira organização homossexual do Brasil, informou que, em 2010, foram assassinatos 260 gays, travestis e lésbicas no Brasil – 62 a mais que em 2009.
Casos como esse manifestam de modo extremo pensamentos arraigados em grande parte da sociedade brasileira. São raras declarações semelhantes às feitas recentemente pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e pela deputada estadual Miriam Rios (PDT-RJ). Mas não são poucos os que concordam com elas.
Depois de promover uma enquete e descobrir que 75% dos entrevistados não queriam um beijo gay na televisão, o novelista Aguinaldo Silva, assumidamente homossexual, foi enfático: “Beijo gay, só lá em casa”. É provável que nas ruas essa decisão seja criticada por brasileiros que, em casa, se sentirão à vontade para aplaudi-la.
Se o Brasil fosse tão colorido quanto aparenta, as emissoras de televisão não hesitariam tanto em mostrar na tela um beijo entre homossexuais. O primeiro beijo lésbico nos EUA, por exemplo, consumou-se em 1991, na série “L.A Law”. Exatamente 20 anos depois, os autores da novela Amor e Revolução, do SBT, criaram coragem para repetir a cena por aqui. Nos EUA, dois homens se beijaram em 2000, na série “Dawson’s Creek”. Não há previsão para que a cena seja reprisada no Brasil.
Atualmente, os campos de batalha dos gays brasileiros passam por questões jurídicas, morais, religiosas e científicas. E a luta tem tudo para ser longa.
Os argumentos jurídicos – Até esta quinta-feira, mais de 350 casais homossexuais haviam conseguido o reconhecimento de união estável – aprovado por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal em 5 de maio deste ano. Quatro foram transformadas em casamento civil.
“Jamais imaginei que viveria para ver isso”, diz Tony. Para o presidente da ABGLT, os responsáveis por essa conquista foram os próprios homossexuais. “Aprendemos a nos mobilizar e a pressionar politicamente”. Hoje, os 300 grupos que lutam pelos direitos dos gays espalhados pelo Brasil, organizam mais de 250 passeatas anualmente.
Dos quatro casamentos entre pessoas do mesmo sexo, dois por pouco não se concretizaram. Titular da 1ª Vara de Registros Públicos de Goiânia, juiz de Direito desde 30 de setembro de 1991, casado e pai de dois filhos, Jeronymo Pedro Villas Boas foi responsável pela decisão polêmica. Amparado na Constituição Federal Villas Boas anulou a certidão de casamento expedida a dois casais homossexuais por cartórios de Goiás.
“A poética decisão do Supremo desnaturou o conceito constitucional de Família, que se forma apenas entre homem e mulher”, sentenciou o magistrado. “O STF não possui aptidão para modificar a Constituição”.
Também pastor da Assembleia de Deus, Villas Boas foi alvo de duas acusações: afrontar o Supremo e proceder com excesso de moralismo. Villas Boas nega que se tenha baseado em questões religiosas. “Sobre ter afrontado o Supremo, considero que antes de tudo houve uma afronta do Supremo à Constituição”, diz. “Quanto ao moralismo, penso que na ausência de razões para o debate, o rótulo de moralista é usado como recorrência para tentar descredenciar uma opinião contrária”.

Para a advogada Maria Berenice Dias, estudiosa da jurisprudência sobre o assunto, a decisão do STF foi o desfecho de uma séria de mudanças iniciadas há pelo menos 10 anos. “Faz tempo que ações isoladas de juristas têm permitido que homossexuais tenham direito à pensão por morte do parceiro, por exemplo, que sejam incluídos entre os dependentes de planos de saúde, ou que possam se associar ao clube de seus companheiros”, diz Maria Berenice..
Em 4 de julho deste ano, uma resolução do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça estendeu o direito à visita íntima “às pessoas presas casadas, em união estável ou em relação homoafetiva”. E a orientação sexual deixou de figurar entre os critérios de seleção de doadores de sangue em 14 de junho.
A Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil, presidida por Maria Berenice, prepara um documento destinado a unificar os direitos de gays, lésbicas, transexuais e travestis. Entre outros objetivos, a Comissão pretende transformar em lei o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e criminalizar da homofobia.
“A pretensão de criminalizar a crítica ao homossexualismo não passa de uma tentativa de interferir na liberdade de expressão num veio onde os conteúdos e opiniões possuem fortes pontos axiológicos”, acredita Villas Boas. “Caso a homofobia seja criminalizada será dever desse mesmo parlamento criminalizar a heterofobia, o que me aparente algo bastante arriscado, que pode levar a sociedade a se segregar, gerando um sistema de apartheid”.
A moral e a religião – “O homossexualismo mexe com a noção tradicional de família”, acredita Denise Pará Diniz, terapeuta comportamental e coordenadora do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de Vida da Unifesp. “A família constituída por um homem e uma mulher tem como objetivo a procriação. Nesse sentido, ela é um dos pilares da sociedade, algo que permite a ela se perpetuar. Por isso o homossexualismo gera tanto desconforto em algumas pessoas”.
Embora convencida de que a união estável entre pessoas do mesmo sexo não pode ser equiparada à família, “que se fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e educação dos filhos”, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se mostrado mais tolerante no trato do tema. Na mesma nota em que acusa o STF de ter interferido na esfera de atribuições do Congresso Nacional, a quem cabe propor e votar leis, a CNBB diz que “as pessoas que sentem atração sexual exclusiva ou predominante pelo mesmo sexo são merecedoras de respeito e consideração”. E conclui: “Repudiamos todo tipo de discriminação e violência que fere sua dignidade de pessoa humana”.
Em julho de 2003, o Vaticano lançou uma campanha mundial contra a legalização da união civil homossexual, pedindo aos políticos católicos de todo o mundo que se pronunciassem contra o casamento gay. Cinco anos depois, o Vaticano se opôs à proposta apresentada a ONU pela França, de exigir a descriminalização universal do homossexualismo. Em abril de 2010, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, afirmou que os casos de pedofilia entre padres católicos tinham mais relação com a homossexualidade do que com o celibato.
“Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram, ouvi dizer recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia”, argumentou Bertone. “Essa é uma doença que atinge todos os tipos de pessoas, e padres em uma escala menor em termos percentuais”.
A homossexualidade continua a ser vista com desconforto pelas religiões cristãs, que associam a relação sexual exclusivamente à procriação. Nunca ao prazer ou ao amor entre duas pessoas. Em alguns países de religião predominantemente muçulmana, como a Arábia Saudita, o Irã e o Iêmen, o homossexualismo é punido com pena de morte.
Apesar de a homossexualidade ser tratada pela grande maioria dos evangélicos como doença, ou até como uma maldição demoníaca, duas igrejas de São Paulo acolhem gays entre seus fiéis e realizam cultos celebrados por pastores homossexuais. São a Comunidade Metropolitana, no bairro da Bela Vista, e a Comunidade Cidade de Refúgio, em Santa Cecília.
Genética ou criação? – A ciência também é palco de uma polêmica sobre os homossexuais. Há anos, o meio acadêmico se divide entre os que acreditam que o homossexualismo tem razões genéticas e os que entendem que os homossexuais são fruto do meio em que vivem. Até agora, nenhuma das teorias foi cientificamente comprovada. “O que se sabe é que não é uma opção sexual, mas uma orientação”, afirma o médico e psicoterapeuta Geraldo Possendoro, mestre em neurociência do comportamento pela USP. “Um homossexual não tem escolha, da mesma forma que um heterossexual não tem a opção de se sentir atraído por um homem ou uma mulher. Ele gosta e ponto”.
Assumir a homossexualidade, segundo o médico, diminui consideravelmente o grau de ansiedade e estresse. O apoio da família também afasta o risco de depressão e suicídio. Possendoro atribui a aceitação crescente do homossexualismo a uma evolução da sociedade. O psicoterapeuta, entretanto, evita manifestar-se sobre a adoção de filhos por casais gays. “Não sou contra nem a favor”, diz. “Não tenho como me manifestar porque não existem dados científicos para saber quais serão as consequências na vida de uma criança”.
“Esses novos núcleos familiares podem culminar em novas pessoas, novas cabeças e novos corações”, diz Denise Pará Diniz. “Podem fazer com que a humanidade consiga conviver melhor com as diferenças”.
Na contramão de Denise, Villas Boas sustenta que quando duas pessoas do mesmo sexo optam por um relacionamento homossexual fazem uma opção por não terem filhos, diante da impossibilidade natural disto ocorrer. “Esta decisão fundamental retira não só a aptidão, mas também a legitimidade de duas pessoas do mesmo sexo para ambicionar a adoção de uma criança como se constituíssem núcleo familiar”, afirma.
É apenas mais um exemplo de que, apesar de todas as mudanças, a história está em seu começo. E não tem prazo para terminar.