quarta-feira, 25 de maio de 2011

Perguntas não são mais bem vindas nas Reuniões da Mocidade

Congregação Cristã no Brasil
Resumo de Ensinamentos
76 Assembléia
2011

Sede da Congregação Cristã no Brasil, no bairro do Brás - SP

Todos os anos, o ministério da Congregação Cristã se reúne na sede Administrativa da cidade de São Paulo e sede mundial dos ensinamentos da denominação, no bairro do Brás.
A reunião acontece invariavelmente no período que compreende a Semana Santa do calendário Católico Romano, mais especificamente nos três dias que coincidem com a morte e ressurreição de Jesus, segundo o mesmo calendário.
Estas reuniões resultam em tópicos doutrinários que servem de base para todas as igrejas da mesma denominação no país e no exterior. Na maioria das vezes, os tópicos listados a cada ano são repetições de assuntos abordados em anos anteriores, que abrangem desde “quando o fiel deve dizer amém no culto”, “vestimentas e apetrechos inconvenientes para as mulheres”, “unção de enfermos”, “batismos”, entre outras coisas. São também considerados novos obreiros (anciães e diáconos) para o ministério da igreja, obreiros estes que não são remunerados.

Assuntos de cunho administrativo que fogem ao teor religioso também são considerados nestas reuniões, bem como temas envolvendo a “Obra da Piedade”, uma espécie de ONG dentro da denominação que visa dar assistência às pessoas necessitadas.

Este ano, um dos tópicos abordado e deliberado pelo ministério me chamou bastante a atenção. É prática de alguns anciães nas Reuniões para a Mocidade da CCB permitirem que os jovens façam perguntas (geralmente através de papéis escritos a próprio punho durante o culto) concernentes à doutrina da igreja, dúvidas sobre a permissão ou não de certas práticas do mundo atual como “ficar”, o uso da Internet, uso de calças pelas mulheres etc. Outros jovens se manifestam com questões sobre textos bíblicos. O ancião, então, responde a estas perguntas de acordo com seu entendimento, tentando enquadrar as respostas o mais próximo possível da sua visão de certo ou errado de acordo com a Bíblia ou das convenções estabelecidas pela CCB. Veja agora o que foi decidido na 76 Assembléia de Ensinamentos da CCB, este ano:

19 – Reuniões para a Mocidade – Perguntas
  • O ancião que preside não deve abrir a liberdade para se fazerem perguntas na reunião da mocidade. Deve-se exortar a irmandade a ler a Bíblia para conhecer melhor a Palavra de Deus.


Esta decisão é simplesmente chocante. Se o objetivo das Reuniões para a Mocidade é, de fato, fazer com que os jovens entendam melhor assuntos voltados especificamente para os mesmos, por que estes jovens não podem tirar suas dúvidas com os anciães (que teoricamente teriam maior conhecimento bíblico)? Será mesmo que ler a Bíblia é a única saída para obtenção de TODAS as respostas que estes jovens que freqüentam estas reuniões, pré-adolescentes de 12 anos em diante, possuem? Como um jovem que contém pouco conhecimento pode interpretar uma passagem bíblica polêmica como aquela em que Jesus diz: “E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga, Marcos 9:43 “ ou a conclusão Paulina sobre o casamento que diz “Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher. 1 Coríntios 7:27 “, ou ainda sobre o que se deve fazer com os filhos que desobedecem a seus pais segundo o livro de Levítico “Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá; amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue será sobre ele.”?

O meu parecer é que os anciães querem evitar a manifestação de pessoas com questões polêmicas que possam tirar o ministério e a igreja da sua zona de conforto, como questões envolvendo a homossexualidade, o uso de pílulas anticoncepcionais, uniões matrimoniais com pessoas pertencentes a outras denominações evangélicas (chamados pela CCB de “estranhos à fé”) etc. A verdade é que o ministério da CCB não está preparado para responder as dúvidas dos jovens. Na maioria das vezes, cada ancião dá sua opinião pessoal ao ser questionado certo assunto, opinião essa que pode variar drasticamente com a de outro conservo do mesmo ofício ministerial.

Ironicamente, nesta mesma Assembléia de Ensinamentos, a apenas dois tópicos acima, foi feita a seguinte deliberação, pelas mesmas pessoas que proibiram os jovens de se manifestarem:

17 – Dúvidas e Esclarecimentos

Quando algum irmão do ministério tiver alguma dúvida ou precisar de algum esclarecimento, deve dirigir-se ao ancião mais antigo ou do Estado para depois, se necessário, dirigir-se aos anciães mais antigos que se reúnem em São Paulo.

Não é isto uma grande contradição? Por um lado, jovens cheios de questionamentos, medos e receios não podem manifestar suas preocupações, dirigindo-as a alguém que deveria estar apto a sanar seus anseios. A resposta a estes é curta e grossa: Leia a Bíblia. Ponto final. Por outro lado, anciães sim podem ter questionamentos, e buscar respostas com outros que, teoricamente, estão dotados de maior conhecimento e talvez virtude para esclarecer suas indecisões. Fica aqui então a seguinte impressão: os anciães da CCB não conseguem ter uma opinião uniforme sobre a maioria das questões polêmicas que preocupam os jovens da atualidade e, para evitar maiores problemas, decidiu-se calar a mocidade (ou seria calar os anciães?).