terça-feira, 31 de julho de 2012

Há vida lá fora - um ano e meio fora do armário


Há pouco mais de um ano e meio eu saia do armário para minha família. Fui o assunto do momento por várias semanas. A notícia se espalhou rapidamente. Ouvi e soube de várias pessoas que se chocaram, choraram e não acreditaram ao saber que eu, um irmãozinho músico, tradicional, cheio de "pretendentas" e de ótimo testemunho (modéstias à parte) era "aquilo...uma abominação". Bom, adjetivos à parte, sou sim homossexual. E dai? E dai que eu enfrentei de cabeça erguida todo este falatório, as desconfianças e maledicências que proferiram contra mim (não diretamente na minha cara, óbvio). Continuei minha vida, sendo quem eu sempre fui: um homem íntegro, trabalhador e honesto...para tristeza de muitos, é claro, já esperavam que eu iria me transformar e me liberar, sair dando escândalos, vestindo roupas femininas, e sendo o "palhacito" do bairro. Pobres almas que vivem do espetáculo alheio. 

Conquistei meu o espaço e o respeito da minha família. Meus amigos? Continuaram sendo meus amigos. Eu também descobri que alguns daqueles que se diziam meus amigos eram na verdade "falsos amigos", mas isto não me importa mais. O que importa é que hoje sou feliz. Não preciso mais dar desculpas esfarrapadas para "irmãos e irmãs santo-casamenteiros" que tanto se incomodavam com meu solteirismo, e queriam a todo custo arrancar de mim o  porquê de ainda estar sozinho. Não preciso mais arranjar namoradas de fachada, nem dizer que "Deus vai preparar uma serva no tempo certo", nem viver tendo que "bancar o hétero fervoroso", que não se casou porque priorizou se aplicar às "coisas de Deus". Esta vida de máscaras acabou. Hoje sou verdadeiro, sou eu mesmo. 

Claro, não anuncio aos quatro cantos da terra minha vida privada. Sou cauteloso e discreto. Infelizmente ainda vivemos numa sociedade homofóbica e preconceituosa e temos que ter jogo de cintura para vivermos sem maiores problemas. Mas estou liberto. Liberto para ser quem eu sempre fui. Por causa das amarras da religião precisei fingir por muitos anos ser alguém que eu não era. 

Meu conselho para aqueles que ainda estão no armário: tenha cautela, pois há um tempo determinado para todas as coisas. Esperei até meus 25 anos por este momento. O primeiro passo para sair do armário é estar bem consigo mesmo. Acredito que o primeiro desafio a ser vencido como crente é o trauma que a religião nos causa, ao afirmar que "gays são filhos do diabo", "homossexuais não tem salvação" etc. Um livro muito interessante que li e recomento é "O Código da Inteligência", de Augusto Curi. Não trata a homossexualidade diretamente, mas ajuda a encontrarmos o equilíbrio emocional em situações de trauma psico-social. "Não orbite em torno das opiniões alheias, seja você mesmo" é um dos lemas deste livro.

Ao sair do armário, você precisa estar preparado para mudanças. Infelizmente a igreja não vê com bons olhos quem se assume. É muito confortável para as igrejas evangélicas que os gays (sim, os anciães, cooperadores, pastores sabem muito bem que há muitos gays nas igrejas) não se assumam. Algumas pessoas podem afastar-se de você. Não se assuste. Você descobrirá quem são seus verdadeiros amigos (prepare-se para grandes decepções).

Nesta vida nada é garantido. Para tudo há um risco.Se não arriscarmos e não apostarmos na nossa própria felicidade, e sobretudo lealdade ao nosso próprio eu, jamais viveremos a vida como ela deve ser de fato vivida.